Reflexões sobre o Perdão...
Era uma vez um garoto de 8 anos, chamado Atha, que passava todas as tardes na casa de seus avós, conversando com seu avô sobre a vida e sobre as coisas que vivia e aprendia.
Seu avô sempre lhe fazia perguntas intrigantes que o deixavam um tempão pensando; também lhe contava histórias que tocavam seu coração e as vezes desafiavam sua mente.
Mas um dia, Atha chegou a casa de seus avós e seu avô não estava. Sua avó contou-lhe que seu avô ficou um pouco doente e teria que ficar no hospital por alguns dias para se fortalecer e voltar para casa recuperado.
Triste o garoto insiste em ver o avô para tentar entender porque ele tinha ficado doente e o que estava fazendo no hospital, já que Atha tinha ficado doente algumas vezes, mas nunca precisou ficar no hospital.
Quando chega ao hospital, vê seu avô deitado numa cama com um olhar triste, parecendo bem fraco fisicamente e com algumas agulhas espetadas em seus braços. Preocupado e surpreso, pois nunca havia visto seu avô assim, o garoto pergunta:
Atha: Vovô, o que está fazendo aqui? Porque está assim?
Avô: Querido Atha, vou lhe contar uma história...
Era uma vez um garoto de 7 anos, que vivia feliz com sua família. Ele era o mais velho e bastante responsável, ajudando sua mãe a cuidar dos 3 irmãos menores. Tudo estava bem, exceto por algumas brigas que os pais tinham em casa.
Mas um belo dia, tudo mudou. O garoto acordou e foi para escola com os irmãos, como todos os dias, mas quando chegou em casa, seu pai não estava e sua mãe chorava muito.
Sem saber o que fazer, o garoto correu para abraçar a mãe e perguntou o que havia acontecido e onde estava o pai. A mãe chorando lhe disse que o pai tinha saído de casa, abandonando a família para viver com outra mulher.
Naquele momento, a vida do garoto mudou... ele sentiu tantas coisas ao mesmo tempo... ficou com medo, raiva, sentiu-se inseguro, abandonado, culpado... e acima de tudo, sentiu que a partir daquele momento, ele seria o responsável pela casa, pela família, pela mãe e por seus irmãos... tão pequeno e com tantas responsabilidades...
A dor e a responsabilidade fizeram com que ele se fechasse para o mundo e virasse um adulto muito cedo. Começou a trabalhar, cuidar dos irmãos e da mãe.
Atha: Mas vovô, ele não foi conversar com o pai pra saber o que tinha acontecido? Porque o pai foi embora??? Eles nunca mais se viram??
Avô: Meu filho, a vida seguiu e ele tentou sim conversar com o pai, mas se sentia tão machucado por tudo, que não conseguiu de fato ver e ouvir seu pai, estava cego pela raiva e pela mágoa.
Esses sentimentos, quando guardamos eles dentro de nós, nos cegam, tornando-se véus na frente de nossos olhos e corações, impedindo que enxerguemos ou sintamos verdadeiramente.
Eles ficam presentes em nossas vidas, ocupando um espaço dentro de nós, que poderia ser ocupado por outras coisas. E muitas vezes nos impedem de sentir coisas boas.
Quando o garoto foi conversar com o pai, chegou assumindo que já sabia a verdade, gritando e acusando o pai, que se sentiu culpado, triste e com raiva e só conseguiu se defender do filho... mas o menino não percebeu isso... na verdade, tinha a esperança de que o pai tivera se arrependido, que falaria que os amava e que ia voltar... mas encontrou o pai bem e feliz, com uma nova família, pois a mulher que o acompanhava já estava grávida...
O pai se defendeu com poucas palavras e disse que estava buscando a felicidade dele... mas o garoto sentiu isso como um egoísmo do pai, já que hoje em sua casa todos estavam infelizes... Naquele momento ele se foi correndo e decidiu que não queria mais ver o pai... mas na verdade queria o seu amor... sua defesa foi de se afastar para que aquilo parasse de doer e cicatrizasse. Mas anos se passaram e a ferida não se cicatrizou... o menino não falou mais com o pai e seguiu sua vida.
O pai tentou estar próximo, acompanhando a vida do garoto de longe e o garoto suprimiu tudo isso e tentou nunca mais pensar no assunto, mas na verdade, tudo estava dentro dele sem resolver.
Atha: E aí vovô?? Que triste?? Como esse menino viveu??
Avô: Ele viveu carregando uma profunda tristeza dentro dele, fingindo que ela não existia, porque doía muito pensar sobre ela, mas na verdade, ela nunca cicatrizou direito e o garoto nunca teve a oportunidade de falar de novo com seu pai. Quando ele tomou a decisão de se afastar, criou mecanismos tão rígidos para se defender... como escudos de aço, que nunca conseguiu transpor esses escudos e nem seu pai.
Ele cresceu, formou sua família, mas sentia um vazio dentro de si, algo que estava lá e que não podia ser tocado.
Seu pai um dia faleceu e ele nem ao enterro foi... mas depois disso, sofreu muito por não poder ter conversado com seu pai sobre tudo isso... nunca se sentiu preparado e quando o pai faleceu, se deu conta que nunca mais seria possível fazê-lo... nem fazer as perguntas e nem tentar entender o que houve por parte dele.
Sua mãe, preocupada, o chamou para uma conversa e contou um pouco sobre como foi que as coisas aconteceram, como ela as viveu, como seu pai as viveu, do ponto de vista dela. E nesse momento, o garoto já grande, se deu conta de que uma história sempre tem dois lados... que as pessoas fazem o melhor que elas podem fazer, no momento em que estão vivendo e com os recursos que têm.
Ele percebeu como ele se sentiu e o que o impediu de conversar com o pai e de entender esse outro lado da história... entendeu o sofrimento da mãe e do pai... mas principalmente, entendeu como ele tinha vivido tudo isso.
Mas, quando tudo isso aconteceu, seu pai já se havia ido e ele não mais poderia ter essa conversa com ele... todos esses sentimentos de dentro dele, ‘acordaram’... as mágoas, a raiva, mas acima de tudo a culpa e a tristeza de não poder reconstruir a história com o pai.
Algum tempo depois, esse garoto grande adoece, pois todas essas emoções que ficaram lá guardadas foram transformando suas células... seu corpo todo sentiu o que ele sentia... e sua força de reagir ficou menor, porque sua tristeza já consumia suas forças e a esperança morria.
A tristeza enfraqueceu seu pulmão e dessa fraqueza surge um tumor, contendo tudo isso que ficou guardado durante todos esses anos.
Atha: Mas vovô, se ele descobriu tudo isso, porque ele não pode desfazer esse tumor? E se ele parasse de sentir todas essas emoções, o tumor iria embora?
Avô: Eu não sei, Atha... eu não sei... essas emoções são tão profundas, que parecem que fazem parte de nós, de quem somos... e já não conseguimos distinguí-las... nos apegamos a elas para não sucumbir no vazio, mas na verdade elas que nos tornam vazios, pois não permitem que nada mais entre.
Atha: Sabe vovô, minha professora falou um dia na escola que tudo o que temos é o momento presente e que tudo o que vivemos, vivemos hoje e a partir de hoje. A vida acontece em tempo 0 e assim podemos mudar o rumo dela e o modo como vivemos a cada instante que vivemos... Eu fiz o teste. E sabe vovô, deu super certo!
Eu me sentia rejeitado na escola... achava que ninguém gostava de mim... então me isolava das pessoas para que não me machucassem... e elas cada vez mais distantes de mim estavam.
Ficava muito triste com isso, mas quando ouvi a professora falar isso, me senti um mágico e resolvi tentar a minha primeira mágica... o plano era me aproximar de uma pessoa pra ver se ela se aproximava de mim, e se desse certo, eu faria isso com outras. Pois escolhi uma pessoa, fui até ela, ofereci pra dividir meu lanche e fiz algumas perguntas sobre uma matéria que ela era boa.
Vovô, não é que deu certo! A partir desse momento, fiz isso com vários colegas da escola e funcionou, tudo foi mudando em torno das decisões e das ações que eu tomava. Hoje, tudo é muito diferente.
Será que esse garoto grande não pode sarar, mudando a maneira como sente e vive, então?
Avô: Atha, estou orgulhoso de você. É um garoto precioso que amo muito. Sua professora e você têm razão, vivemos o agora e escolhemos a cada instante... e tem mais uma coisa que esse garoto grande descobriu. Talvez a mais importante lição que tenha aprendido de tudo isso.
Atha: E qual foi? pergunta Atha curioso.
Avô: Foi perceber que nunca conseguiu perdoar seu pai, porque não se perdoou. Ele sentia culpa pelo abandono do pai, achava que ele não era um bom filho e por isso o pai se foi... sentia culpa pela raiva que sentia dele... culpa pelas agressões e por se manter distante, mesmo querendo estar mais próximo.
Todas essas ‘falhas’ que ele via nele, nunca foram perdoadas por ele mesmo e quando não conseguimos nos perdoar e nos amar, não conseguimos fazer isso pelo outro.
O perdão brota de dentro de nós, da nossa compaixão pelo outro, da compreensão de que na maioria das vezes fazemos o melhor que podemos no momento que estamos vivendo com os recursos que temos.
Mas ele não brota para o outro sem antes surgir para nós mesmos. Temos que entender nossos erros e nos perdoar por eles, pois errando aprendemos e o erro faz parte do nosso processo de crescimento e de ser humanos... mas quando ficamos presos a eles, nos amarramos em nossa própria ignorância, na onipotência de que conhecemos ou somos os donos da verdade.
O erro é posterior à experiência, quando vivemos, vivemos como válido o que vivemos, não distinguimos entre ilusão e percepção, então só nos damos conta que erramos, quando comparamos essa experiência à uma outra experiência a posteriori e refletimos sobre a experiência anterior.
A verdade está dentro de cada um, pois cada um de nós é um mundo diferente, e vivemos as experiências e as emoções de formas distintas... pensamos diferente e temos ações a partir de tudo isso... então, não podemos afirmar que uma verdade é única, ela é uma verdade dentro do contexto em que existe, e para as pessoas que nela acreditam.
Esse garoto grande, hoje seu avô, ficou apegado às verdades que ele creia universais, mas que na verdade eram dele... e acabou por julgar seu pai a partir desses critérios. Mas de fato, nunca conseguiu ouvir seu pai e nem a si mesmo, pra ser bem sincero.
Meu querido neto, o perdão nos aproxima do divino, nos aproxima de nós mesmos, nos possibilita a liberdade e a paz interior... o perdão nos torna leves, e desbloqueia nosso coração, permitindo que novas emoções, experiências e até pessoas entrem.
Atha: Mas vovô, então perdoa pra se curar. Por que é tão difícil perdoar?
Avô: Abrir mão da nossa dor, do nosso orgulho, olhar menos para nós e conseguir ver o outro, admitir erros e fraquezas, nem sempre é fácil.
Pra perdoar, abrimos mão de nossas certezas e da nossa razão, perdoamos com o coração, com o amor, com a compaixão. Ele surge através de nós, quando abrimos mão de conservar atitudes e emoções que nos prendem a uma dinâmica destrutiva e cega.
Enquanto não perdoamos, parece que nos falta um pedaço, não estamos inteiros. Já quando perdoamos, se desfazem os nós ou doenças que se cristalizaram por essas emoções.
Atha: Vovô, eu ficarei aqui com você e te ajudarei a se recuperar...
Com muito amor, dedicação e curiosidade do garoto, o avô foi capaz de se perdoar e de conversar com seu falecido pai, dentro dele.
Curou-se do câncer e um mês e se aproximou da segunda família do pai, para reconstruir alguns laços afetivos.
Que fique para nós a reflexão sobre as emoções e experiências que guardamos conosco, e a dica para soltar nossos apegos, perdoar para ser perdoado, agindo em tempo 0.
Namastê!
Narjara Thamiz
Seu avô sempre lhe fazia perguntas intrigantes que o deixavam um tempão pensando; também lhe contava histórias que tocavam seu coração e as vezes desafiavam sua mente.
Mas um dia, Atha chegou a casa de seus avós e seu avô não estava. Sua avó contou-lhe que seu avô ficou um pouco doente e teria que ficar no hospital por alguns dias para se fortalecer e voltar para casa recuperado.
Triste o garoto insiste em ver o avô para tentar entender porque ele tinha ficado doente e o que estava fazendo no hospital, já que Atha tinha ficado doente algumas vezes, mas nunca precisou ficar no hospital.
Quando chega ao hospital, vê seu avô deitado numa cama com um olhar triste, parecendo bem fraco fisicamente e com algumas agulhas espetadas em seus braços. Preocupado e surpreso, pois nunca havia visto seu avô assim, o garoto pergunta:
Atha: Vovô, o que está fazendo aqui? Porque está assim?
Avô: Querido Atha, vou lhe contar uma história...
Era uma vez um garoto de 7 anos, que vivia feliz com sua família. Ele era o mais velho e bastante responsável, ajudando sua mãe a cuidar dos 3 irmãos menores. Tudo estava bem, exceto por algumas brigas que os pais tinham em casa.
Mas um belo dia, tudo mudou. O garoto acordou e foi para escola com os irmãos, como todos os dias, mas quando chegou em casa, seu pai não estava e sua mãe chorava muito.
Sem saber o que fazer, o garoto correu para abraçar a mãe e perguntou o que havia acontecido e onde estava o pai. A mãe chorando lhe disse que o pai tinha saído de casa, abandonando a família para viver com outra mulher.
Naquele momento, a vida do garoto mudou... ele sentiu tantas coisas ao mesmo tempo... ficou com medo, raiva, sentiu-se inseguro, abandonado, culpado... e acima de tudo, sentiu que a partir daquele momento, ele seria o responsável pela casa, pela família, pela mãe e por seus irmãos... tão pequeno e com tantas responsabilidades...
A dor e a responsabilidade fizeram com que ele se fechasse para o mundo e virasse um adulto muito cedo. Começou a trabalhar, cuidar dos irmãos e da mãe.
Atha: Mas vovô, ele não foi conversar com o pai pra saber o que tinha acontecido? Porque o pai foi embora??? Eles nunca mais se viram??
Avô: Meu filho, a vida seguiu e ele tentou sim conversar com o pai, mas se sentia tão machucado por tudo, que não conseguiu de fato ver e ouvir seu pai, estava cego pela raiva e pela mágoa.
Esses sentimentos, quando guardamos eles dentro de nós, nos cegam, tornando-se véus na frente de nossos olhos e corações, impedindo que enxerguemos ou sintamos verdadeiramente.
Eles ficam presentes em nossas vidas, ocupando um espaço dentro de nós, que poderia ser ocupado por outras coisas. E muitas vezes nos impedem de sentir coisas boas.
Quando o garoto foi conversar com o pai, chegou assumindo que já sabia a verdade, gritando e acusando o pai, que se sentiu culpado, triste e com raiva e só conseguiu se defender do filho... mas o menino não percebeu isso... na verdade, tinha a esperança de que o pai tivera se arrependido, que falaria que os amava e que ia voltar... mas encontrou o pai bem e feliz, com uma nova família, pois a mulher que o acompanhava já estava grávida...
O pai se defendeu com poucas palavras e disse que estava buscando a felicidade dele... mas o garoto sentiu isso como um egoísmo do pai, já que hoje em sua casa todos estavam infelizes... Naquele momento ele se foi correndo e decidiu que não queria mais ver o pai... mas na verdade queria o seu amor... sua defesa foi de se afastar para que aquilo parasse de doer e cicatrizasse. Mas anos se passaram e a ferida não se cicatrizou... o menino não falou mais com o pai e seguiu sua vida.
O pai tentou estar próximo, acompanhando a vida do garoto de longe e o garoto suprimiu tudo isso e tentou nunca mais pensar no assunto, mas na verdade, tudo estava dentro dele sem resolver.
Atha: E aí vovô?? Que triste?? Como esse menino viveu??
Avô: Ele viveu carregando uma profunda tristeza dentro dele, fingindo que ela não existia, porque doía muito pensar sobre ela, mas na verdade, ela nunca cicatrizou direito e o garoto nunca teve a oportunidade de falar de novo com seu pai. Quando ele tomou a decisão de se afastar, criou mecanismos tão rígidos para se defender... como escudos de aço, que nunca conseguiu transpor esses escudos e nem seu pai.
Ele cresceu, formou sua família, mas sentia um vazio dentro de si, algo que estava lá e que não podia ser tocado.
Seu pai um dia faleceu e ele nem ao enterro foi... mas depois disso, sofreu muito por não poder ter conversado com seu pai sobre tudo isso... nunca se sentiu preparado e quando o pai faleceu, se deu conta que nunca mais seria possível fazê-lo... nem fazer as perguntas e nem tentar entender o que houve por parte dele.
Sua mãe, preocupada, o chamou para uma conversa e contou um pouco sobre como foi que as coisas aconteceram, como ela as viveu, como seu pai as viveu, do ponto de vista dela. E nesse momento, o garoto já grande, se deu conta de que uma história sempre tem dois lados... que as pessoas fazem o melhor que elas podem fazer, no momento em que estão vivendo e com os recursos que têm.
Ele percebeu como ele se sentiu e o que o impediu de conversar com o pai e de entender esse outro lado da história... entendeu o sofrimento da mãe e do pai... mas principalmente, entendeu como ele tinha vivido tudo isso.
Mas, quando tudo isso aconteceu, seu pai já se havia ido e ele não mais poderia ter essa conversa com ele... todos esses sentimentos de dentro dele, ‘acordaram’... as mágoas, a raiva, mas acima de tudo a culpa e a tristeza de não poder reconstruir a história com o pai.
Algum tempo depois, esse garoto grande adoece, pois todas essas emoções que ficaram lá guardadas foram transformando suas células... seu corpo todo sentiu o que ele sentia... e sua força de reagir ficou menor, porque sua tristeza já consumia suas forças e a esperança morria.
A tristeza enfraqueceu seu pulmão e dessa fraqueza surge um tumor, contendo tudo isso que ficou guardado durante todos esses anos.
Atha: Mas vovô, se ele descobriu tudo isso, porque ele não pode desfazer esse tumor? E se ele parasse de sentir todas essas emoções, o tumor iria embora?
Avô: Eu não sei, Atha... eu não sei... essas emoções são tão profundas, que parecem que fazem parte de nós, de quem somos... e já não conseguimos distinguí-las... nos apegamos a elas para não sucumbir no vazio, mas na verdade elas que nos tornam vazios, pois não permitem que nada mais entre.
Atha: Sabe vovô, minha professora falou um dia na escola que tudo o que temos é o momento presente e que tudo o que vivemos, vivemos hoje e a partir de hoje. A vida acontece em tempo 0 e assim podemos mudar o rumo dela e o modo como vivemos a cada instante que vivemos... Eu fiz o teste. E sabe vovô, deu super certo!
Eu me sentia rejeitado na escola... achava que ninguém gostava de mim... então me isolava das pessoas para que não me machucassem... e elas cada vez mais distantes de mim estavam.
Ficava muito triste com isso, mas quando ouvi a professora falar isso, me senti um mágico e resolvi tentar a minha primeira mágica... o plano era me aproximar de uma pessoa pra ver se ela se aproximava de mim, e se desse certo, eu faria isso com outras. Pois escolhi uma pessoa, fui até ela, ofereci pra dividir meu lanche e fiz algumas perguntas sobre uma matéria que ela era boa.
Vovô, não é que deu certo! A partir desse momento, fiz isso com vários colegas da escola e funcionou, tudo foi mudando em torno das decisões e das ações que eu tomava. Hoje, tudo é muito diferente.
Será que esse garoto grande não pode sarar, mudando a maneira como sente e vive, então?
Avô: Atha, estou orgulhoso de você. É um garoto precioso que amo muito. Sua professora e você têm razão, vivemos o agora e escolhemos a cada instante... e tem mais uma coisa que esse garoto grande descobriu. Talvez a mais importante lição que tenha aprendido de tudo isso.
Atha: E qual foi? pergunta Atha curioso.
Avô: Foi perceber que nunca conseguiu perdoar seu pai, porque não se perdoou. Ele sentia culpa pelo abandono do pai, achava que ele não era um bom filho e por isso o pai se foi... sentia culpa pela raiva que sentia dele... culpa pelas agressões e por se manter distante, mesmo querendo estar mais próximo.
Todas essas ‘falhas’ que ele via nele, nunca foram perdoadas por ele mesmo e quando não conseguimos nos perdoar e nos amar, não conseguimos fazer isso pelo outro.
O perdão brota de dentro de nós, da nossa compaixão pelo outro, da compreensão de que na maioria das vezes fazemos o melhor que podemos no momento que estamos vivendo com os recursos que temos.
Mas ele não brota para o outro sem antes surgir para nós mesmos. Temos que entender nossos erros e nos perdoar por eles, pois errando aprendemos e o erro faz parte do nosso processo de crescimento e de ser humanos... mas quando ficamos presos a eles, nos amarramos em nossa própria ignorância, na onipotência de que conhecemos ou somos os donos da verdade.
O erro é posterior à experiência, quando vivemos, vivemos como válido o que vivemos, não distinguimos entre ilusão e percepção, então só nos damos conta que erramos, quando comparamos essa experiência à uma outra experiência a posteriori e refletimos sobre a experiência anterior.
A verdade está dentro de cada um, pois cada um de nós é um mundo diferente, e vivemos as experiências e as emoções de formas distintas... pensamos diferente e temos ações a partir de tudo isso... então, não podemos afirmar que uma verdade é única, ela é uma verdade dentro do contexto em que existe, e para as pessoas que nela acreditam.
Esse garoto grande, hoje seu avô, ficou apegado às verdades que ele creia universais, mas que na verdade eram dele... e acabou por julgar seu pai a partir desses critérios. Mas de fato, nunca conseguiu ouvir seu pai e nem a si mesmo, pra ser bem sincero.
Meu querido neto, o perdão nos aproxima do divino, nos aproxima de nós mesmos, nos possibilita a liberdade e a paz interior... o perdão nos torna leves, e desbloqueia nosso coração, permitindo que novas emoções, experiências e até pessoas entrem.
Atha: Mas vovô, então perdoa pra se curar. Por que é tão difícil perdoar?
Avô: Abrir mão da nossa dor, do nosso orgulho, olhar menos para nós e conseguir ver o outro, admitir erros e fraquezas, nem sempre é fácil.
Pra perdoar, abrimos mão de nossas certezas e da nossa razão, perdoamos com o coração, com o amor, com a compaixão. Ele surge através de nós, quando abrimos mão de conservar atitudes e emoções que nos prendem a uma dinâmica destrutiva e cega.
Enquanto não perdoamos, parece que nos falta um pedaço, não estamos inteiros. Já quando perdoamos, se desfazem os nós ou doenças que se cristalizaram por essas emoções.
Atha: Vovô, eu ficarei aqui com você e te ajudarei a se recuperar...
Com muito amor, dedicação e curiosidade do garoto, o avô foi capaz de se perdoar e de conversar com seu falecido pai, dentro dele.
Curou-se do câncer e um mês e se aproximou da segunda família do pai, para reconstruir alguns laços afetivos.
Que fique para nós a reflexão sobre as emoções e experiências que guardamos conosco, e a dica para soltar nossos apegos, perdoar para ser perdoado, agindo em tempo 0.
Namastê!
Narjara Thamiz
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