O Guardião das Cicatrizes

Conta uma lenda que, na entrada do céu, há um ser  imponente conhecido como o guardião das cicatrizes. Seu corpo é coberto por marcas que brilham como estrelas no firmamento, cada uma carregando histórias de dor, perda e superação. Segunda a lenda, ele é uma alma antiga, que já viveu inúmeras vidas, acumulando em si a essência de todas as experiências que tocou.

O Guardião não julga; ele reflete. Sua presença é como um espelho, revelando as marcas invisíveis que cada viajante carrega na alma. Antes de permitir que alguém atravesse os portais do céu, ele faz apenas uma pergunta: "O que aprendeu com suas feridas?"

Foi assim quando uma mulher, por volta de seus 60 anos, chegou à entrada do céu. Ao ver a figura do Guardião, perguntou surpresa: "Quem é você?"

Ele respondeu com serenidade:"Sou o Guardião das Cicatrizes. Mostre-me as marcas que carrega."

Constrangida, ela disse:"Tenho algumas cicatrizes no corpo, mas essas quase não doeram. As mais dolorosas estão na alma, embora não possam ser vistas."

Com um olhar profundo, o Guardião replicou:"Isso é o que você pensa. Para quem sabe ver, todas as cicatrizes são visíveis. Até as da alma deixam marcas no corpo e moldam quem você é."

De repente, ela viu refletida nos olhos dele sua história – suas cicatrizes físicas e emocionais, cada uma revelando o que antes parecia escondido. Imersa na visão, ela compreendeu o significado das experiências que a moldaram, mas cuja dor a impediu de enxergar.

Então, o Guardião perguntou:"O que aprendeu com suas feridas?"

A mulher respondeu com humildade:"Agora vejo que cada uma delas teve um propósito. As dores moldaram minha alma, e sem elas eu não seria quem sou. É como se tudo fosse orquestrado pela minha própria essência, permitindo que eu aprendesse e me tornasse quem eu sou hoje. Reconheço agora o valor dessas cicatrizes e as agradeço. Se eu tivesse enxergado isso antes, teria sofrido menos, mas tudo aconteceu como deveria."

Com um gesto sereno, o Guardião tocou seu coração. Suas cicatrizes, antes marcas de dor, começaram a brilhar, transformando-se em faíscas de luz que iluminavam o céu. Ela sentiu-se leve, preenchida por uma sabedoria universal.

A lenda conta que aqueles que respondem com sinceridade e humildade são acolhidos pelo Guardião, que integra suas histórias ao grande mosaico das experiências humanas. Já os que negam ou não reconhecem suas cicatrizes são gentilmente enviados de volta à Terra, para aprender e crescer até estarem prontos.

Essa história nos lembra que nossas cicatrizes são parte fundamental da vida e também uma parte essencial de quem somos. Elas moldam nossas almas, personalidades e jornadas. A verdadeira questão é: como damos significado às nossas feridas e transformamos o sofrimento em aprendizado?

Como disse Buda:"A dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional." E, completou Aristóteles: "Não podemos mudar o vento, mas podemos ajustar as velas."

Talvez, no fim, sejam nossas cicatrizes que nos entreguem a chave para atravessar os portais da terra e do céu.

Namastê!

Narjara Thamiz

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O poder do amor

Reflexões sobre a saúde!

Prayer of Acknowledgement and Transformation