Um caminho para a cura
São muitas as auto-crenças negativas que vamos construindo ao longo de nossas vidas, à medida que enfrentamos experiências traumáticas. "Não tenho valor", "não sou bom o suficiente", "é minha culpa", "não sou digno de ser amado", "não mereço", "sou inadequado", "sou uma pessoa má", "sou invisível", "não pertenço", "sou fraco"... apenas para citar algumas.
E essas pequenas faíscas podem, de forma inesperada, abrir um portal para o mundo de nossas dores mais profundas. Dores que advêm de nossos traumas e experiências dolorosas do passado.
De repente, nos encontramos de volta ao passado, revivendo dores profundas, reencenando cenas conhecidas com personagens diferentes.
Será que buscamos pessoas com perfis semelhantes, que tendem a reencenar as dinâmicas já vividas? Ou será o nosso olhar, contaminado pelos nossos gatilhos internos, que lê as situações de forma semelhante, filtrando as experiências através de lentes conhecidas que alimentam essas dores e auto-crenças negativas que desejam sobreviver em nosso subconsciente?
E por que elas desejam sobreviver? Por que as alimentamos de forma inconsciente?
O que acreditamos sobre nós é o nosso território conhecido, é a nossa identidade construída. A ela nos agarramos, porque é o que conhecemos e aprendemos sobre nós. Sem ela, abre-se um vazio desconhecido e, muitas vezes, angustiante. Mas, sem dúvida, é para lá que precisaremos olhar, se desejarmos soltar esses antigos padrões e crenças destrutivas.
Assim como no mito egípcio/grego da fênix, ave que renasce de suas próprias cinzas, vamos aos poucos queimando aquilo que não nos serve e abrindo espaço para que o novo possa nascer.
O fogo aqui é o símbolo dessa combustão que transforma. Por isso, quando essas pequenas faíscas causam esse imenso incêndio, estão nos direcionando para onde ainda precisamos olhar: para nossos traumas ainda não resolvidos, para nossos complexos, como disse Carl G. Jung. E esse acesso direto a esses núcleos doloridos nos dá a oportunidade de curá-los.Olhando para essas dores, para essas crenças e sustentando esse lugar, muitas vezes dolorido e escuro, podemos, aos poucos, curá-las e desconstruí-las para nos reconstruir.
E essa desconstrução é simplesmente um despir-se das máscaras, das camadas e dos muros que fomos construindo ao nosso redor para nos proteger, para proteger nossa alma, que é o núcleo do nosso verdadeiro eu, e sem ela não poderíamos sobreviver.
E, à medida que essas camadas, além de nossa proteção, foram se tornando a identidade com a qual nos identificamos, é como se, ao soltá-la, soltássemos quem somos. Uma ilusão que quero aqui desconstruir, pois você é, na verdade, a alma que está por trás de todas essas camadas.
E, à medida que estamos em contextos seguros e amorosos, seja com um parceir@, amig@, psicoterapeuta, que nos oferece um outro olhar sobre nós mesmos, podemos, aos poucos, nos despedir dessas máscaras e derrubar esses muros que nos serviram até aqui. Para construir um novo olhar sobre nós mesmos.Este é um processo profundo, que exige coragem para sustentar o desconhecido, para olhar as dores, para sentir as vulnerabilidades e enfrentar nossos medos mais profundos.
E é desafiador, já que nossas defesas construídas são tão eficientes que acabam nos defendendo inclusive das coisas boas que nos acontecem e
podem nos curar, porque tudo acaba se tornando ameaçador, e elas vão lutar a todo custo para nos proteger de sermos novamente machucados.Mas somos capazes de fazê-lo, e isso nos permitirá reencontrar a liberdade de ser quem somos, a força para sermos vulneráveis e o poder para soltar todas as imagens negativas que construímos sobre nós mesmos, para ver quem, na verdade, somos, com todas as nossas sombras e luzes, pois um sem o outro não pode existir.
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